"SEM CORAÇÃO"
Uma trilha de roupas pelo chão, começando pelas roupas superiores. Blusa e uma camiseta cinza. Depois as inferiores. Uma saia social e uma jeans. Peças íntimas.
Lençóis amarrotados e travesseiros para fora do colchão. A noite passada era lembrada por gargalhadas e palavras doces. Arrepios e sensações irracionais que só eram sentidas entre duas pessoas, gemidos e carícias até chegar ao ápice.
Beijos e toques, e novamente quiseram pertencer um ao outro por completo. Adormecidos no meio da madrugada, abraçados e um sorriso feliz nos lábios do moreno. Somente ele uma força maior sabiam que a paixão que sentia por Alice, estava subindo para outro patamar. Mas, ao contrário de qualquer um que está amando, ele queria proibir esse sentimento.
O quarto foi sendo iluminado aos poucos. A luz da manhã era fraca, estava frio e o dia nublado. O corpo de pele alva acordou antes das sete. Se encontrou enlaçada pelos braços fortes do homem de cabelos negros. O fitou dormindo, a face estava serena e calma. Sentiria falta dele, mas voltaria algum dia… talvez.
– Me desculpe. – Sussurrou mesmo sabendo que não adiantaria.
Beijou-lhe os lábios rapidamente e se livrou dos braços em cima de si e levantou da cama. Recolheu as roupas do chão e as vestiu com um pouco de pressa. Escreveu algo rapidamente em um papel e o deixou no criado mudo. Praxe.
Lavou o rosto e escovou os dentes rapidamente. Atravessou o quarto desviando das coisas espalhadas pelo chão… e antes de segurar a maçaneta e sair daquele quarto , permitiu-se aproximar e beijá-lo mais uma vez. Abaixou o olhar e suspirou fundo, isso não melhorou o peso que tinha no peito. Saiu do quarto sem olhar para trás.
Uma, duas, três, quatro, e cinco horas se passaram.
O moreno abriu os olhos se deparando com o teto. Piscou os olhos três vezes e os coçou logo em seguida. Sentou-se e olhou em sua volta. Reparou que estava sozinho na cama e no chão só havia suas próprias vestes, não se espantara. Já deveria ter se acostumado.
Olhou para o criado mudo à sua esquerda, um ato óbvio vindo dela.
Pegou o pequeno papel dobrado ao meio, e no mesmo, somente três palavras e um ponto final.
“Não me esqueça.”
Tadeu sentiu seu coração palpitar. Não era a primeira vez. E desde o começo sabia onde estava se metendo. Ela era cruel, sempre fora, e sempre soube disso.
– Como você pode ser tão sem coração? – Perguntou em voz alta às letras no papel branco. As palavras eram tão egoístas.
Mas ele iria obedecer, como sempre fazia. Até porque, nunca a esqueceria. Riu dos próprios pensamentos, não se permitiu abater e nem a tristeza o possuir.
Levantou da cama nu, e jogou o papel na cômoda. Iria esperar pacientemente, procurando em outros corpos a mulher sem coração, que infelizmente amava.